A Associação Brasileira de Lawtechs & Legaltechs divulgou nas primeiras semanas de julho uma importante pesquisa para quem deseja manter-se informado sobre as mudanças que movimentam o ambiente de negócios jurídico no país.
O estudo trouxe dados sobre o cenário nacional destas startups do Direito, os quais revelam questões fundamentais a respeito de como o mercado se relaciona com a tecnologia, o que os escritórios esperam das novas soluções que se apresentam no setor e quais são os desafios que precisam ser superados para que a transformação digital se expanda no meio jurídico brasileiro.
Ao longo deste artigo, comento alguns pontos da pesquisa, explicando ainda como enxergo a relação entre Tecnologia e Direito. Acompanhem!
De início, é importante delimitar os campos da pesquisa sobre as Lawtechs e as Legaltechs brasileiras. Segundo o levantamento, cerca de 30 startups oferecem no país serviços que vão desde o monitoramento automatizado de processos até o preenchimento, por meio de robôs, de documentos diversos.
O primeiro dado que chama a atenção na pesquisa é o fato de que 88% dos escritórios analisados no estudo pretendem, em algum momento, adotar ferramentas distribuídas ou desenvolvidas por startups. O ponto é animador, mas traz uma questão crucial: o que fazer, desde já, para que a transformação digital no âmbito do Direito seja efetiva?
Para responder a esta pergunta, podemos utilizar outra informação interessante do estudo, divulgada no Portal Startupi: “A maior parte dos advogados (68%) entende, no entanto, que os escritórios/empresas necessitam de produtos e/ou serviços customizados”. Em outras palavras, o setor jurídico exige mais do que a oferta dos dados brutos monitorados por uma parametrização robótica ou a automação de contratos, documentos e laudas. É preciso ir além, absorvendo as particularidades de cada escritório, dentro de um segmento, por si só, complexo e cheio de desafios.
Para alcançar tal nível de customização de serviços e gerar valor a partir do suporte de soluções digitais, tenho convicção de que a tecnologia deve caminhar de mãos dadas com a excelência profissional.
Somente a visão de advogados e analistas suficientemente capacitados pode trazer ao mercado jurídico a garantia da entrega de resultados de qualidade, levando inteligência e insights valiosos para a análise das informações obtidas com o apoio de ferramentas tecnológicas e auxiliando escritórios na tomada de decisões assertivas.
Com intuito de elucidar o quanto o fator humano pode contribuir para que se extraia o melhor da tecnologia no universo do Direito, exponho aqui um exemplo concreto, do qual participamos recentemente em nossa empresa.
O objetivo da solução contratada era fazer a análise de cerca de 5000 processos relacionados a um modelo específico de contratos com garantia de imóveis. Para tanto, baixamos via robô andamentos previamente definidos e parametrizados destes processos, buscando as movimentações que interessam por meio de uma série de palavras-chave.
E aqui entra o fator humano. A tecnologia é uma grande aliada na hora de colher e organizar um montante vasto de dados, mas, no Direito, a transformação destes dados em informação jurídica relevante, é feita em conjunto com profissionais e advogados aptos a analisar de que forma o status de um processo vai influenciar na tomada de decisões de um cliente.
Neste sentido, continuando com o exemplo dos 5000 processos, foi possível observar a quantidade de liminares concedidas e, destas concedidas, quantas foram revogadas; quais liminares estão ou não em grau de recurso contra decisão que concedeu ou revogou; quais dos processos já tem sentença definitiva, entre outras informações que, conjuntas, fornecem um espelho com o qual, o processo de decisão do cliente se torna muito mais orientado, fruto dos insights de uma equipe pronta para a interpretação do dado e para a transformação desse dado em informação relevante (minerada e imputada no sistema do cliente), afim de que esse “espelho” seja preponderante no processo de tomada de decisão do executivo jurídico.
Com tudo isso, não temos dúvidas de que a transformação digital será benéfica para o Direito e tende a se expandir. Entretanto, não podemos nos esquecer da importância dos bons profissionais e de analistas com visão sistêmica, componentes essenciais na agenda da inovação que está apenas começando no ambiente jurídico brasileiro.